terça-feira, 9 de outubro de 2012

De novo!




Desta vez, nenhum de nós conseguiu deitar naquela que ainda era a nossa cama. Penso que talvez seria o único que ainda partilhávamos. Olhei-te disfarçadamente, por detrás das minhas costas, para saber se continuavas na mesma posição que eu e assim continuavas: olhando o vazio, enquanto te passavam aquelas piores coisas que eu imaginava pela tua cabeça. Nós tínhamos prometido um ao outro que era a última vez que iriamos brigar por coisas mesquinhas, mas acabámos de discutir de novo! Apesar disso, nenhum de nós parecia querer dar o mesmo enlace á situação. Parece que desta vez, nenhum de nós teria coragem de se deitar naquela cama e fugir entre os lençóis como um cobarde aos problemas, fingindo que estes nunca tivessem acontecido. Além disso, nenhum de nós ainda teria tido coragem para dar o primeiro passo para aquela conversa que iria durar toda a noite e acabaria com as malas feitas por ele logo pela manhã para nunca mais regressar. Ficámos olhando o vazio, cada um para seu lado durante aqueles minutos que pareceram séculos a passar. Como nós eramos tão idiotas ao ponto que nenhum começar a conversa!
Enfim, ele deitou-se, senti-o a puxar os lençóis para a frente de modo a me convidar para eu entrar neles para adormecermos naquele assunto e acordarmos no outro dia e fingir mais uma vez que nada tinha acontecido. Eu não estava para mais um ‘’ciclo vicioso’’ destes. As coisas tinham que acabar naquele momento, mesmo que as lágrimas me caíssem, mesmo que acontecesse o pior. Estava tão irritada, tão fora de mim que, inevitavelmente, deixei cair um desabafo entre os soluços:
- Acredito que se eu nunca tivesse nascido seria melhor, pelo menos para ti!
- Não! – Apressou-se ele a dizer que até me assustou. Ele nunca se atreveria a responder-me e se alguma vez respondesse seria para dar um ponto final em tudo o que passámos juntos.
- Porque dizes isso? Nunca me irias conhecer e tu estarias com muito melhor.
- Se tu não tivesses nascido, eu também nunca teria nascido! – Disse aquelas palavras tão naturalmente, que por instantes pensei que no fim, ele sempre teve o seu romantismo escondido dentro dele, esperando o momento certo para aparecer.
- Porquê? – Perguntei eu, hesitando que a resposta fosse totalmente diferente do que aquilo que imaginava.
- Porque o Destino fez-nos um para o outro. Se tu nunca tivesses nascido, eu também não teria, porque eu pertenço-te!
Juro que se fosse outra pessoa a dizer-me tal coisa, por mais apaixonada que estivesse, eu me iria rir ironicamente até que ele entendesse que aquilo seria o fim, mas vindo dele sabia que era verdadeiro.
Deitei-me naqueles lençóis para o lado oposto dele, como todas as vezes que discutíamos. Só não esperava que desta vez ele se virasse e eu fosse ouvir a sua respiração no meu ouvido acalmando a minha e que os seus braços se entrelaçassem entre a minha barriga, como um escudo protetor, a tudo o que tinha acontecido. Entendi então que aquilo seria o fim de todas as brigas, de todos os gritos e de todas as lágrimas. Descobri então que entre nós ainda havia sentimentos que nós os dois pensávamos já ter perdido um pelo outro.

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