segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Re-cor(d)ações

Um ano depois e acordei com o tom de voz que usaste comigo naquela noite. Engraçado como intuitivamente tapei os ouvidos em tom de defesa, mas foi em vão. Todas as tuas vozes vivem dentro de mim. Hoje sussuram-me de longe mas tenho que admitir que ainda sinto medo de um dia elas estarem mesmo atrás de mim, a gritarem-me com tanta fúria como outrora, fazendo com que me sinta pequena.

Lembro-me que naquele dia gritaste as mesmas palavras de sempre mas num tom de voz mais violento. Parecias mais nervoso que o habitual pelos teus gestos. Admito que pensei que seria naquele dia que finalmente irias tocar em mim. Não estava assustada por isso aliás, nem sabes quantas vezes eu pedi para que o fizesses em vez de gritares comigo. Seria mais silencioso e a minha mente precisava de paz. (Estava habituada a castigar o meu corpo. Seria mais fácil para mim...)

Eu estava mais calada que o habitual, surpreendentemente ainda não me tinha desfeito em lágrimas. A verdade é que pela primeira vez em muito tempo, eu consegui ver entre a fúria aquele rapaz que eu conhecia desde sempre. Aquele por quem me tinha apaixonado na inocência dos meus 15 anos. Aquele com quem saía nas férias de verão e que se ria comigo de tudo e mais alguma coisa. Aquele com quem podia conversar um dia inteiro sem me fartar. (Lembras-te?)

Por instinto, tentei abraçar-te. Eu juro,  por momentos pensei que por sintonia te irias recordar também desses tempos. Não precisavas de gostar mais de mim, só queria que naquele momento te acalmasses.

Engraçado como cada vez que relembro tudo isto ainda consigo sentir as tuas mãos nos meu peito a empurrarem-me e engraçado como me lembro como eu cai em lágrimas, igual a uma criança quando lhe roubam o doce das suas mãos. Lembro-me que senti como se não houvesse mais vida para mim depois disso. Senti que tinha esgotado até as forças para me manter em pé. Senti que de certa forma, estávamos os dois esgotados.

Nunca fui suficiente para quebrar esse teu coração de pedra mas espero que não tenha sido eu que o tenha construído. Nunca consegui encontrar uma explicação aceitável para teres mudado a tua postura sobre mim tão repentinamente. Fizeste-me sentir especial para de repente fazeres sentir repulsa de mim mesma. (Quem sabe, eu tinha que passar por tudo isto para me tornar a mulher que sou hoje.)

Por mais que o negue, eu conheço-te e talvez como ninguém. Sei os teus pontos fortes e fracos. Os teus defeitos e feitios assim como tu sabes os meus. Aliás, não há ninguém que conheça mais sobre mim do que tu. Eu era tão inocente, dei o meu melhor e pior por ti e foi graças a isso que aprendi a ser mais reservada nesse aspecto.

Eu odeio quando me perguntam sobre ti ou quando falam sobre a tua vida e eu sou obrigada a ouvir, até odeio ouvir o teu nome mas eu não te odeio. Não consigo mais odiar-te. Além de tudo eras o meu melhor amigo, aquele com quem podia contar para o bem e para o mal. Sempre convivemos juntos desde os meus primeiros dias de primária e ainda me lembro perfeitamente como tu e os teus amiguinhos chateavam a minha cabeça aos intervalos.

Espero que tenhas encontrado paz depois de toda a guerra. Eu ainda tenho algumas cicatrizes - e pelos vistos,  algumas são bem visíveis - mas o tempo cura tudo. (certo?)

Fica bem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Amélia ♡

- Não é impressionante como o artista mostra a dor da sua obra com cores tão vivas? - Naquele momento ele olhou-me, como se eu tivesse acabado de falar sobre mim. Tentei olhar para todos os pontos da sala na tentativa de encontrar algo que me captasse a atenção. Conhecia aqueles olhos observadores de cor e deixavam-me desconfortável. Era aquele olhar que me conseguia tocar sem pele e ler os meus pensamentos sem palavras. Finalmente consegui achar algo que me captava a atenção dentro daquelas quatro paredes. A minha obra favorita: o meu reflexo dentro dos seus olhos. Era curioso e ao mesmo tempo intrigante como eu me via tão brilhante dentro deles. Além de observadores, eram traidores por me fazerem sempre cair na mesma armadilha.

Ele observava-me tal como outrora observara as cores das obras. Vi-o então a rever a minha noite anterior pelas manchas negras em volta dos meus olhos: metade de um maço de cigarros, metade da noite passada em lágrimas e metade da minha alma vazia.
- Está tudo bem contigo?
- Está. - Respondi quase antes de ele me fazer a pergunta. Ele era um tanto previsível e ele sabia disso. Acho que ele tinha um certo gosto em me ver mentir mesmo eu tendo a consciência de que seria em vão.
- Se eu não te conhecesse tão bem, diria que foste inventada pelo autor destas obras.
Eu sabia onde ele queria chegar com aquilo mas fingi não entender. Eu tinha a terrível mania de pintar a minha dor de várias cores diferentes. Era a forma mais fácil das pessoas concluírem que tudo estava bem quando a minha destruição ainda só ía no início.

Tudo era metades em mim: metade de verdades e metade de mentiras; metade de sonhos e metade de desilusões; metade de dias e metade de noites. Eu vivia por metades. Como era possível alguém me reflectir como se fosse inteira? Haveria algo sobre mim que ele conhecesse e eu não?

- Continuas a ser a arte mais interessante desta sala, não te preocupes. - Disse ele em resposta ao meu silêncio. Tentei mostrar-me mais uma vez indiferente mas era difícil ele não me fazer sorrir pelo tom de voz brincalhão com que ele dizia as coisas. Ele era o rapaz mais descontraído da turma e tenho a certeza que era o mais cabeça no ar que aquela universidade já conheceu. Às vezes penso como é que ele conseguiu estudar-me tão bem ao ponto de saber até o tom de voz e as palavras certas para me fazer sorrir.

Eu poderia dizer que me estava a apaixonar por ele se não me tivesse apaixonado antes por outras pessoas. É algo diferente: é um misto de não o querer por perto mas de não me conseguir afastar dele; De perder a cabeça com as coisas que ele me diz mas de me encontrar naqueles momentos que não precisamos de palavras; De ter medo de irmos longe de mais mas de sentir que não há limites traçados entre nós.

- Vamos sair daqui. - Assustei-me quando entendi que ele estava perto de mim, o suficiente para me fazer arrepiar com a sua respiração colada ao meu pescoço.
Reconheci de imediato aquela frase. Foi a mesma que ele usou na noite de aniversário da Angélica, quando estávamos todos naquele bar junto ao rio. Involuntariamente tive a mesma reacção daquela noite: obedeci-lhe, mesmo sabendo que iria acontecer de novo tudo aquilo que disse a mim própria que não iria acontecer nunca mais.

Desta vez, ele não esperou até chegar ao seu quarto. Beijou-me com uma ânsia enorme onde toda a gente nos poderia ver que por momentos imaginei que a sua vida dependia daquele beijo. Caminhámos de mãos dadas, um pouco constrangidos, como se fossemos dois adolescentes a descobrir novos sentimentos que até aquele momento pensávamos não passarem de sentimentos irrealistas. Eu estava empenhada em distrair-me com tudo o que passava pelo meu olhar. Sabia que não podia evitar o que seria inevitável, mas pelo menos podia adiá-lo.

Chegámos rápidamente ao quarto. Talvez pela ânsia, o caminho parecia mais curto que o normal. Não demorou muito para que entrássemos de novo naquela batalha onde nenhum de nós iria sair com a vitória. Odiava quando o meu corpo não correspondia às necessidades da minha alma e deixava-se envolver em utopias criadas entre as sombras dos nossos corpos que se tatuavam entre as paredes, outrora sem vida. Era estranho como tudo parecia uma nova descoberta, mesmo conhecendo todos os ataques e todas as defesas de cor. Nenhuma funcionava connosco, aquela era uma batalha diferente. A vontade de ela acabar era menor.

A madrugada daquela noite estava gelada e o calor da minha casa pareceu-me ainda mais acolhedor quando entrei. Ainda havia alguns vestígios de que houve uma rotina durante a manhã, ansiosa para que voltásse ao final da tarde para os mesmos hábitos de sempre. Olhei para o meu reflexo no espelho da sala e pela primeira vez consegui ver-me brilhante. Consegui olhar de uma forma mais profunda para mim e percebi que todas as cores tinham desaparecido, era transparente e pela primeira vez não vi metades em mim. Estava finalmente inteira, tal como me via no reflexo dos seus olhos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Causa(dor) ☆

Eu ainda me lembro de como transformam os meus primeiros anos de vida num paraíso. Quem me dera que estivessem aqui para relembrar esses momentos comigo. Ultimamente tenho sentido saudades vossas. Tenho tentado encontrar vestígios de vocês em tudo o que eu faço,  numa tentativa quase sempre falhada de vos sentir intensamente. Realmente, há pessoas que deviam ser imortais ou pelo menos deviam de poder estar presentes em alguns momentos da nossa vida.

Eu pergunto-me muita vez se me estão a ver de onde quer que estejam e se sentem orgulhosos de mim. Lembras-te bisavó, quando me sentavas ao teu colo e me ensinavas canções para cantarmos juntas mais tarde a caminho do castelo? Ou quando eu te via a costurar e te chateava para me ensinares também? Lembras-te quando me ensinavas a fazer tranças e insistias em corrigir-me cada vez que errava? Ou lembras quando eu levei as coisas longe de mais e cortei o meu próprio cabelo na vossa casa?
Eu era tão nova, mas lembro-me de tudo tão perfeitamente. Quem diria naquela altura que todas essas coisas iriam tornar-se em paixões que quem sabe,  irão fazer parte de mim durante toda a minha vida.

Já se passaram tantos anos desde que vos vi pela última vez e outros mais que vos vi cheios de vida. (Aquela que toda a gente que vos conhecia invejava...) É tão triste como a gente se apercebe ao longo dos anos que não somos imortais, que as pessoas que mais gostamos não são imortais e que nem sempre iremos ter a mesma disposição para a vida como temos em jovens.

A vida esgota-se ao longo do tempo e eu olho ao meu redor e vejo as vidas de quem mais gosto desgastadas com os (d)anos. É tão doloroso para mim ver as pessoas mais chegadas a perder a vida aos poucos. Sinto-me de novo aquela rapariga de 5 anos a quem lhe explicaram - com bastantes eufemismos e metáforas - que a morte leva quem mais gostamos e nunca mais os deixa voltar. Mesmo assim, acho que consegui entender (ou pelo menos tolerar) a morte nessa altura. Hoje, não a entendo nem a tolero. Ela está a querer tirar mais partes de mim e eu vou ficando cada vez mais incompleta sem aviso, sem piedade...

Eu não sei o que vem depois de tudo isto mas se essas ilusões que as pessoas criam para levarem melhor a vida forem verdade, prometem-me que irão esperar por mim? Que se irão juntar a quem inevitavelmente terá que ir? Que vamos ser unidos, tal e qual como fomos outrora?

Eu prometo dar o meu melhor aqui em baixo,  se vocês me prometerem que um dia irei poder matar todas as saudades que venho a acumular todos os dias.

Nunca se esqueçam de me proteger, com o mesmo amor e cuidado que faziam aqui em baixo, 

por favor...

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Prostituta de sentimentos

Eu estou tão concentrada a sentir todas as dores que vivem em mim que nem consigo sentir o peso que um corpo pode ter sobre o meu. Esqueço completamente de todos os danos que ele me pode causar. Uso como se fosse o meu próprio corpo e trato-o como deveria tratar o meu.

Quando dou por mim, todas as minhas dores se uniram a outras que não me pertenciam, dispostas a serem mais um peso em mim só para tornar mais leve tudo aquilo que me recuso a sentir. Aprendi a doar o meu corpo a tudo o que não me faça doer ainda mais a alma. Sinto-me cheia quando queria sentir-me vazia mas sinto-me satisfeita, mesmo que nunca me tenha sentido insaciável.

Transformo-me num reflexo de egos e normalmente acabam por gostar do que vêm, sem se quer saber que o único que vêm são elas próprias. Eu gosto da sensação, mesmo que (es)forçada, que consigo atingir a quem me tem como alvo. É necessário um corpo aberto para remendar outro mas nem todos sabem disso.

Prefiro viver sem remendos, pois estes podem causar cicatrizes. Sei esconder-me com facilidade em aparências e mesmo que seja desmascarada por alguém, eu sei que dificilmente teria a coragem de me fechar sem me deixar alguma marca que me dure para sempre.

Nunca quis que fosse desta forma...

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

É pena...

As crianças gostam de brincar aos adultos e os adultos gostam de brincar de crianças... não é irónico?

É engraçado ver como as crianças brincam às 'mães e aos pais' ou como arranjam uma vida luxusa e super ocupada para as suas bonecas - todas elas bonitas e com corpos esculturais - como se o mundo dos adultos fosse interessante. Na realidade, o mundo dos adultos torna-se interessante no ponto de vista das crianças.
Sem terem alguma noção do quão dura irá ser a vida, elas conseguem criar histórias nas suas cabeças onde tudo é perfeito,  onde tudo corre bem e onde tudo é possível. Eu sei, nada mais é do que a inocência a falar mais alto e é tão doloroso quando começamos a entender o mundo e a substituir a criança pela pessoa adulta que aos poucos nos tornamos.
Deixamos de achar piada a esse tipo de brincadeiras e o que, na nossa infância achávamos ser um assunto sério: amizade,  honestidade e lealdade, passamos a usar como brincadeiras (modernas) de adulto.

A única conclusão que posso chegar, é que as crianças - mesmo sem experiência alguma - fazem tão bem o papel de adulto...

mas os adultos - mesmo com toda a experiência de infância - não são bons a fazer o papel de criança.

É pena . . .

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Eu estou viciada em fazer-te rir a toda a hora...
(Mesmo que seja com as coisas mais idiotas que só vêm da minha cabeça)
 é essa melodia que consegue lembrar ao  meu coração que ele ainda é jovem e por uns momentos, ele até tem vontade de rir também.
Por favor nunca pares de rir de e para mim. Fazes tão bem ao meu coração.

domingo, 26 de julho de 2015

Tempestade ☆

Continuo sempre à espera do arco-íris depois da tempestade...




                                                                                                            mas 
recuso-me a ouvir o som da chuva a bater violentamente contra os vidros da minha janela, pedindo desesperadamente para entrar. Fecho-as rapidamente antes que os relâmpagos me denunciem e os trovões me venham avisar que querem ajustar contas comigo.

Estou habituada a continuar com a minha rotina numa tentativa de esconder o medo, tentando dar a falsa sensação que nada do que se passa lá fora importa, enquanto a minha mente só consegue pensar no dia em que o tecto irá ceder ou no dia em que o vento finalmente ganha a batalha com a minha janela e a abre, dando ordem à tempestade para entrar no meu esconderijo.

Quando esse dia chegar irei ficar imóvel, sentindo finalmente a chuva a magoar a minha pele, como se tratassem de setas atiradas na minha direcção e irei ficar apavorada quando a luz atravessar os céus, com a ânsia de atravessar o meu corpo. Nesse dia, irei deixar todas as minhas fraquezas expostas à força da natureza. Não o irei fazer por não saber como lutar, mas sim porque preciso de fazer parte da fúria e da revolta que todos os Invenos teima em chamar por mim. Irei doar o meu corpo para que me doa a alma. É triste fugirmos da dor mas ainda mais triste fingirmos a nós próprios que somos ignorantes, só para não sentí-la.
A tempestade finalmente acabou. a fúria acabou. o medo acabou.
Mas desta vez não irei abrir a janela, não mereço apreciar o esplendor do arco-íris.


Só merece o arco-íris quem se molhou na tempestade.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Ponto final...

Descobri porque tenho tanto medo da Morte.
Não é propriamente por ter receio de não haver vida após Ela chegar.
É por ter receio de não descobrir a vida antes de me encontrar com Ela.
Tenho fé que a vida antes da morte não seja só uma ilusão. (Chamem-me louca!)
Ponto final...

quinta-feira, 18 de junho de 2015

C.A.O.S

O silêncio depois da guerra! É tao ensurdecedor...


Quem diria que momentos antes, dentro destas quatro paredes, o caos se apoderou de tudo que outrora lhe teimava em escapar.

.Falsas certezas - Verdades omitidas - Lindas hipérboles - Dúvidas esclarecidas - Orgulho frágil - Dores curadas.

Agora que tudo acabou, só escuridão tem a coragem de limpar todos os destroços deixados pela guerra.

Onde há poucos instantes se visualizaram as sombras dos corpos que entraram na batalha - famintos por uma vitória, que sabiam que nunca iriam alcançar - agora não se visualiza mais nada. Deixaram de existir corpos, sombras, paredes, o lugar onde já foi seguro habitar.              Deixei de existir.             O único que ainda me faz crer que estou aqui é a minha alma e essa, espera que finalmente dê o meu último suspiro. É preciso passar por tudo isto para entender o verdadeiro significado da vida. Nascemos sozinhos, só para nos habituarmos ao facto de que iremos morrer dessa mesma forma. A vida só é longa e só nos liga uns aos outros, de forma a colecionarmos as recordações necessárias para preparar as nossas últimas palavras e os nossos últimos pensamentos com nostalgia, cuidado e sabedoria.

.Falsas certezas - Verdades omitidas - Lindas hipérboles - Dúvidas esclarecidas - Orgulho frágil - Dores curadas.
Perfeito.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Sobre|viver

Não acredito na sorte e nas coincidências,  ou pelo menos esforço-me bastante por não acreditar. Prefiro ter fé no Destino e que tudo tem uma razão de acontecer, mesmo que por vezes duvide da minha própria teoria. Assusta-me pensar que a vida pode ser tão simples ao ponto de ser feita por meros acasos e que a minha vida poderia ter levado qualquer outro rumo.
Prefiro acreditar que existe uma razão para os meus fracassos e para as minhas vitórias. Para os que hoje estão na minha vida, para os que já foram e para os que um dia me irão abandonar.
Foi esta a fórmula que criei para não temer a vida.

Os nossos medos podem ser ultrapassados quando descobrimos qual a razão de eles existirem,  certo?

Ninguém pode ter a certeza do que realmente é a vida e muito menos de qual é a maneira mais feliz e perfeita de a viver. Independente das razões que apresentamos ou das histórias em que acreditamos, são elas que nos iludem a pensar que vida é uma certeza absoluta quando na realidade, ela não passa de uma ilusão.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

.


Recuso-me a acreditar que haja vida depois de Ti.



Não acredito que haja, ou que algum dia irá existir, um sorriso igual ao Teu – tão perfeito. Não acredito que mais alguém tenha o privilégio de poder nascer com uma voz igual à Tua e muito menos com um olhar igual ao Teu – tão único.

Não acredito que alguém consiga ver o mundo como Tu o vês e não acredito que algum dia haja uma emoção tão forte como a de Te conhecer



de Te poder olhar,

                                            de Te poder ver sorrir,

de poder sentir a Tua pele...



Depois de Ti, as pessoas continuarão a olhar outros rostos, irão conhecer outras pessoas e outras visões do mundo mas simplesmente irão sobreviver. Nunca mais irão ter o privilégio de se sentirem vivas.



Tu és a vida, és o núcleo, a essência. Tu és o segredo que o mundo escondeu à vista de qualquer olhar que tenha a sorte de passar por Ti.




Tenho a certeza que qualquer pessoa que tenha o privilégio de Te encontrar saberá pela primeira vez na vida, qual o verdadeiro significado de estar viva.



Recuso-me a acreditar que haja a minha vida depois de Ti












e talvez até tenha razão.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Causa(dor)

Tenho saudades de te ver chegar. Tenho saudades de sentir saudades tuas mas de ter a segurança que algum dia elas iriam acabar. Hoje vou acumulando saudade e quem sabe para sempre. Tudo porque ninguém me avisou no dia em que te conheci que algum dia teria que te esquecer. Talvez ninguém teve a coragem de estragar a minha felicidade ou talvez fosse tão óbvio, que toda a gente estava à espera que te esquecesse fácilmente.
É difícil esquecer as sensações tão surreais que me fazias sentir.
É difícil esquecer a forma como acreditei mais uma vez no que é inacreditável para mim.
É difícil esquecer a forma como mudaste para sempre a minha forma de encarar a vida, desde o primeiro dia em que te conheci.
É impossível esquecer uma pessoa como tu,
perfeita de mais para este mundo.
Sinto como se nunca mais fosse capaz de sentir algo tão grande como senti por ti mas sinto-me tão grata por ter tido o privilégio de poder ver o teu sorriso divino a esboçoar-se por e para mim.
Dava tudo por mais um soriso teu,
por um último.
Todos os dias meto na minha cabeça preciso de fazer a despedida de algo que nunca começou. Preciso de seguir em frente, ainda tenho tanto a percorrer...
Sempre irás pertencer à melhor parte de mim e todas as fracções de segundo que estive na tua presença serão o melhor sonho que tive em toda a minha vida.
Se as lágrimas que me escorrem sem permissão pelo rosto e o aperto que sinto no meu coração são a paga por todos os momentos que me proporcionaste, então devo de dizer que me sinto feliz por sofrer todos os dias por ti. É a prova de que tudo valeu a pena para mim.
Há muito tempo que nada valia a pena na minha vida quando chegaste.
O despertador toca,
outro dia,
a mesma rotina de sempre,
tenho de acordar.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Comédia&Tragédia

Transformámos o mundo numa autêntica peça de teatro! Não estamos permitidos a fazer ensaios, todas as cenas são improvisadas e quem tem a melhor máscara é quem normalmente ouve mais palmas no final.
Tornámonos obcecados por holofotes que nada mais fazem do que proporcionar uma falsa segurança de que somos o centro das atenções. Toda a gente anseia pelo seu momento de fama, mesmo inconscientemente. Queremos nos sentir seguros, amados e odiados, mas nenhum de nós quer ser indiferente ou passar despercebido quando as luzes apontarem para nós.
Ficamos doentes por um pouco de inspiração. Por algo que nos faça sentir verdadeiros artistas, algo que nos cative a mente à primeira vista. Se nós nos interpretamos como pequenos (grandes) Deuses, então a arte será o nosso pecado.
Vivemos no mundo faz-de-conta e aparentemente não estamos muito preocupados com isso. Fingimos não ver a tragédia, mas ficamos de olhos vidrados na comédia.

E no final, todos nós queremos uma ovação por termos resistido com os pés firmes no palco durante toda a peça.

domingo, 22 de março de 2015

Angélica ♡

- Não me vou permitir chorar, eu sou forte! - Mentalizou-se Angélica, antes de se aperceber que as lágrimas já lhe escorriam pelo rosto. - Tola! - Repreendeu-se em voz alta enquanto se ria de si mesma, olhando o espelho que a enfrentava naquele minúsculo espaço que era o seu quarto. - Tola, tola, tola! - Tentou encontrar algum sítio onde não pudesse ver o seu reflexo. Aquele espelho a fazia sentir bela e vaidosa toda a vez que se arranjava para sair, mas era o primeiro a julgá-la nos seus momentos de fraqueza.

Percebeu então o quão forte podia ser aquele sentimento que, mesmo depois de tudo estar terminado, ainda não tinha a certeza se lhe podia chamar de amor. Sempre ouvira dizer que ficar apaixonada era algo realmente bom. Era um verdadeiro motivo para acordar todos os dias de manhã,  disposta a enfrentar o mundo. Se aquilo fosse realmente amor, não devia magoá-la e muito menos fazê-la sentir como se este, tivesse mais poder sobre o seu corpo do que ela própria.

Normalmente o ser humano é capaz de associar tudo a esse mesmo sentimento: se vemos uma cena romântica num filme - daquelas de cortar a respiração -, imaginamos automaticamente como seria, se fossemos nós e a pessoa por quem estamos apaixonados os protagonistas. Se estamos numa esplanada de algum café e de repente avistamos numa mesa ao lado, um casal feliz por ver o seu filho a dizer as primeiras palavras, suspiramos ao imaginar como era mágico ver a nossa paixão babada com um fruto desenvolvido do nosso amor. Se ouvimos uma música lamechas no rádio enquanto estamos parados no trânsito, desejamos automaticamente ouví-la enquanto estamos nos braços daquela pessoa, seguras de que não existe nada mais importante no mundo do que aquele momento. É algo que vem do instinto do ser humano e por mais que Angélica desejasse ser diferente, ela sabia que era difícil contrariar as leis da vida.

Quando tudo acaba, temos de tentar ao máximo separar o sentimento que colocamos nessas simples coisas, que sempre aparecem de surpresa na nossa rotina diária. Se assim não o fizermos, estamos sujeitos a ser assombrados pelos fantasmas de todas as ambições, desejos e alegrias que tinhamos direito a desfrutar outrora.

Angélica pensava que era forte o suficiente para superar tudo isso, mas assim que aquela música ecoou entre as paredes do seu quarto, percebeu que ela já estava enraizada em demasia a um só rosto e a um só nome: Afonso. Bastava ouvir esse mesmo nome em qualquer lugar para que ela fizesse todos os esforços para encontrar o mais pequeno sinal da sua presença, mesmo sabendo que estava a ser patética. Já passaram dois meses desde que ele se mudou para Londres e ela ainda não encontrou maneira de explicar gentilmente ao seu coração que ele se foi embora para sempre.

Tudo na sua rotina pedia um pouco dele, mesmo que ela nem sempre se apercebesse. Desde apanhar o cabelo numa trança, a tentar ter mais calma com as suas colegas de quarto, como ele recomendara. Ela sabia que se Afonso ainda estivesse com ela, ele iria se sentir feliz por saber que ela ainda segue os seus conselhos. 

Era escusado, ou pelo menos era essa a forma como ela encarava aquela situação. Talvez ela estivesse destinada a ter um só rosto em sua mente, um só nome nos seus lábios e um só sentimento no seu coração.

Voltou a enfrentar o espelho. Reparou que estava a usar aquela camisola que ele lhe tinha dado no primeiro dia de S. Valentim que passaram juntos. Não combinava de todo com o estilo dela. Estavam juntos há muito pouco tempo quando Afonso a comprou e ele ainda não a tinha descoberto o suficiente para conhecer os seus gostos. Aliás, Afonso não tinha senso nenhum de moda ou estilo e Angélica estava segura que esse tinha sido um dos motivos que a fez apaixonar por ele. Mesmo com o seu estilo tão simples e despreocupado, ele conseguia ser o rapaz mais estiloso que alguma vez passou por aquela faculdade.

Últimamente, aquela era a sua camisola favorita. Usava-a vezes sem conta e sem se quer se aperceber o porquê de o fazer. Tanto aquela camisola, como tudo aquilo que o recordava, eram vestígios que ele existiu na sua vida e de que eles existiram. Concluiu  então que por mais que ele já não estivesse em Portugal, ela nunca estaria preparada para o deixar ir embora de vez. Ela sabia que era o verdadeiro lar de Afonso, mas não a sua casa.

- E se te deixar ficar? - Perguntou ao seu próprio reflexo, olhando nos seus próprios olhos. - Até quando vou conseguir manter a minha sanidade mental?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

SombraS

Hoje passei por todas as ruas que antes dominava. Algo dentro de mim não conseguia sossegar até ter a certeza de que elas já não me pertenciam mais.
Todas mudaram desde o verão passado. Elas já não se iluminam para poder passar em segurança, hoje elas ensinaram-me a não temer a escuridão. Afinal,  voltei a ser só mais alguém que passa por elas, com o passo apressado e sem tempo para poder olhar para aqueles pormenores que só quem respira arte consegue ver. As minhas lojas favoritas fecharam. Deram lugar às recordações que naquelas paredes, agora revestidas de passado, podem ser admiradas pelos vidros das vitrinas que só quem as conhecia outrora sabe dar o devido valor que elas realmente têm. Já não encontrei olhares curiosos a espreitar por um cantinho da janela, só para ver se reconheciam aquela menina que cantava e encantava em cada porta por onde passava.

Também não tive a coragem de outros tempos para cantar,  talvez porque já não encanto ou talvez porque já não sou uma menina.

Hoje sou mulher e talvez seja simplesmente a sombra do que já tive coragem de ser. Talvez seja a sombra de mais uma vida que se perdeu por aquelas ruas e que agora se perde em si própria como uma criança assustada pela trovoada, que teima em iluminar a calma escuridão da noite.

Talvez eu seja tudo isso, ou talvez não seja nada. Ou talvez só precise de novas ruas por onde me possa perder até poder chamar elas de "minhas"...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

1 quarto para as 2

Não te demores, mas também não tenhas pressa. Pelo caminho podes trazer chocolates, se quiseres. Não tenho nada doce por aqui para acompanhar o café.
Enquanto não chegas, eu vou preparar a lareira e o meu coração. Não quero que sintas o frio que se faz sentir por estes lados. Ouvi dizer que odeias sentir-te desconfortável em qualquer lado que vás. Não sou perfeccionista mas quero, desta vez, que cada detalhe seja perfeito.
Espero que gostes do jantar. Comprei aquele vinho que gostas tanto. Passei o dia inteiro, de loja a em loja, à procura dele. Tu sabes, eu não sei de todo do apreciar um bom vinho, mas o único que eu quero é apreciar a tua cara enquanto o bebes.
Acabei por comprar aquele vestido em tons de salmão que vimos na loja, aqui há uns tempos. Sinto-me um pouco desconfortável quando saio dos tons escuros que estou habituada a usar para me esconder entre o stress do dia a dia. Mas sei que gostas de cores em tons de pastel para combinar com os teus casacos azuis escuros. Não importo de me adaptar aos teus gostos, sei que vais ficar surpreendido.
Pensei que depois do jantar poderíamos ver um filme, mas não acho adequado passarmos tanto tempo envolvidos em uma história qualquer que, além de não existir, não se compara de todo à nossa. Não vamos perder o pouco tempo que temos com ilusões, quando podemos criar a nossa própria história. Não haverá regras nem limites mas talvez, quem sabe,  um final feliz.
Sei que não querias  nada planeado, mas a minha vida é feita de improvisos e a maior parte deles infelizes. Só quero ter a certeza que tudo correrá como realmente esperas. Disseste que não fazias espectativas de nada, mas sei que essa é a maior mentira de sempre. Toda a gente cria ilusões de momentos perfeitos, mesmo sem se aperceber. Tu, com certeza  não serás exceção.
Espero-te na minha casa às oito. Não te demores, mas também não tenhas pressa.
Eu vou ficar á espera, o tempo que for preciso.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

06012015

Aprendi a não temer o escuro.

Nele nada existe, incluindo eu.

 

Esta foi a melhor forma que tive para fugir de mim por uns momentos.

Nele, todas as lágrimas que aparecem no meu rosto não existem. Nele, aquelas vozes que me atormentam, gritando raivosas todos aqueles nomes em que eu acredito, não passa de uma mera ilusão.  Nele o meu corpo, do qual sinto tanta vergonha, evapora-se e os meus olhos tornam-se inúteis por não poderem olhar para aqueles risos cheios de malicia e todos aqueles dedos a apontarem para mim. No escuro não existe dor, mas também não existe conforto. Não existe certo nem errado. Não existe vida. É preciso ver para crer e se eu não me vejo, então não necessito de acreditar que realmente existo. Estou cansada de seguir as ilusões que me dizem que tudo vai ficar bem. Nada vai ficar bem porque não nasci num conto de fadas para acabar com um final feliz!

Mas ainda estou a tempo de tornar a escuridão eternidade...